Mortal Kombat (Master System, 1993)

O game de luta que reinventou o gênero ganhou uma versão para o 8 bits da Sega. Mas a questão é: será que dá para ter um port decente nessa capacidade?

Ficha Técnica
Desenvolvedora: Acclaim
Ano: 1993
Gênero: Luta
Temática: Sobreviver ou perder a cabeça. Literalmente!
Jogadores: 2

Ports do fliperama ou de outras plataformas são uma verdadeira faca de dois gumes. Podem se tornar clássicos instantâneos ou virarem aquela tosqueira da qual se falará por décadas. Por mais incrível que possa parecer, Mortal Kombat de Master System consegue ser as duas coisas! Para explicar esse fenômeno, primeiro é preciso que nos situemos na história dos videogames, no “longínquo” ano de 1993…

Na época que Mortal Kombat saiu nos arcades (e abalou geral com o mundo dos games de luta), todo mundo queria ter no seu console caseiro e jogar em casa! Sai a versão de SNes, bonita graficamente, mas com areia (!) ao invés de sangue e outras mudanças politicamente corretas muito chatas no jogo. Em seguida, sai a de Mega drive, com os devidos jorros de hemácias após código secreto, mas os gráficos de bitmap do Windows 3.11 nos cenários não deixavam o jogo lá muito simpático. Caberia aos 8 bits salvar a pátria? A versão de Nes / Game Boy, mesmo tendo fatalities, tirou muitos elementos do jogo e os gráficos 2D convencionais não ajudavam. Chegou a ter uma versão (pirata, talvez) sem fatalities, que quase ninguém viu (ou quis ver). Afinal, Mortal Kombat sem “Mortal” não dá!

A bola da vez era mesmo o Master System. As revistas de games na época deram uma fervilhada na notícia, mostrando fotos que lembravam gráficos digitalizados. “Meu Master System faz isso?”, eu pensava. Para tira-teima, só mesmo jogando. 4 semanas de ida à locadora, até que, num improvável dia de semana (quarta-feira), consegui. Corri pra casa na maior adrenalina e… bem… não era o que eu esperava.

Slow motion num jogo de luta?

Gráficos digitalizados nos 8 bits. “Meu Master System faz isso?”

Havia também um código para liberar o sangue e os fatalities mais violentos, mas até aí, vá lá, não tinha internet ainda mas a revista já tinha me contado. Começo o jogo e de cara percebo que ele tem apenas 2 cenários, Goro’s Lair e The Pit, mas falta o stage fatality em The Pit, o que foi uma decepção dos quiabos! Depois de muito custo para acostumar com o gameplay, finalmente venci um adversário, cheguei perto na maior adrenalina, tome socão e… o cara me cai na PONTE, no mesmo lugar onde tomou o gancho?

A defesa, ridícula (trás + 1), atrapalhava nos fatalities e golpes que precisavam dela. Fazer o fatality da Sonia, a rasteira do Sub-Zero ou o espacato do Johnny Cage é uma tortura. Também há algum problema com a, digamos, detecção de colisão dos adversários. É mais ou menos assim: Você dá um golpe, o adversário está defendendo, o golpe acerta, mas ele ainda consegue dar alguns golpes antes de perceber tomou uma porrada, ou até mesmo que morreu! Tudo bem que não é algo constante, mas às vezes enche o saco!

Menos personagens: Kano ficou de fora e o personagem secreto Reptile também.

Mas o mais estranho de tudo é a movimentação, com uma quantidade de frames baixíssima, parecendo até slow motion em alguns momentos. Sem falar em muitas falhas de sprites (quando some uma parte de algum elemento na tela), principalmente durante os golpes especiais. Se pretende conferir, o melhor exemplo é o torpedo do Rayden, onde aparecem verdadeiros retângulos pretos no corpo do personagem.

Os famosos “Test your might”, onde os jogadores testavam a força do seu punho quebrando tábuas, pedras e aço, também não foram incluídos. E faltaram alguns personagens: Kano, o mercenário meia-cara, ficou de fora. Por que ele e não outro? Bem, tirar um dos ninjas exigiria um novo personagem e não apenas mudanças sutis, como cores e alguns movimentos. Liu Kang é o herói, logo não pode ficar fora. Sonia é a única representante feminina. E provavelmente os movimentos e fatalities de Johnny Cage e Rayden seriam mais simples de fazer e exigiriam menos capacidade. Reptile, o ninja personagem-secreto, infelizmente, nem no sonho.

Não sei se notaram, mas odiei completamente esse port num primeiro momento. Mas eu não tinha considerado alguns detalhes muito importantes…

Até a última gota!

Apenas os cenários The Pit e Goro's Lair foram mantidos

Realmente, MK espremia o potencial mostrado pelo Master System até então. Os movimentos não eram tão fluidos, mas os gráficos eram fidelíssimos ao original, mantendo as imagens digitalizadas, o que não foi possível na versão para Nes, (na verdade, quaisquer versões do Nes comuns aos dois consoles SEMPRE perdem para o MS nos quesitos gráfico e cores). O sangue estava lá, os fatalities estavam lá, além do Mirror Match, dos 3 Endurances (onde se enfrenta dois adversários seguidos) e dos chefes Goro, Shang Tsung e suas transformações. Embora apenas com dois cenários, ambos também ficaram bem fiéis ao original, considerando a capacidade do console, mesmo sem stage fatality e sem lua em The Pit. A dificuldade do jogo também é bastante considerável, mesmo jogando no Easy. A coisa aperta ainda mais nos Endurances e nos chefes, principalmente Goro, que é tão apelão quanto nas versões para outros consoles.

Enfim, não dá pra ignorar as falhas da versão de MK para Master System: movimentação esquisita, sem stage fatality, falhas de sprites, personagens eliminados, sem grandes segredos e movimento de defesa ridículo que atrapalhava os golpes e fatalities. Mas ao mesmo tempo não dá pra negar que a simples iniciativa de portar o jogo do momento, junto com um respeito enorme pelo esquema do mesmo, que manteve a maioria dos elementos que tornaram Mortal Kombat o sucesso estrondoso que foi, fazem com que este game mereça seu lugar entre os clássicos do Master System. Talvez se o pessoal da Midway, criadora e dona da série, jogasse mais o primeiro jogo, MK certamente voltaria a ser pelo menos uma sombra do que um dia foi: um game ao mesmo tempo simples e impressionante, sinistro mesmo cheio de bugs, sem nada de tramas sem graça e crossovers sem sentido. Mas deixa isso pra lá, com licença, que tenho algumas cabeças pra estourar…

O bom

  • Gráficos muito bem trabalhados.

    Goro continua um tremendo apelão!

  • Esquema de jogo e golpes mantidos. Nada de frescuras politicamente corretas!
  • Sangue! Não eliminaram o sangue!
  • Fatalities!!! Estão todos lá e do jeitinho que devem ser.
  • Bom nível de dificuldade.

O Ruim

  • Movimentação estranha. leva um tempo pra se acostumar com o gameplay pouco convencional que fizeram.
  • Quebras de sprites, na maioria das vezes em golpes especiais.
  • Não tem o stage fatality em The Pit.
  • Não tem o Reptile ou qualquer outro personagem secreto.
  • Kano ficou de fora!
  • Péssimo comando de defesa.
  • As músicas e efeitos sonoros ficam muito chatos e repetitivos.

Algumas curiosidades sobre Mortal Kombat 1 para MS:

Tela do Código de Honra: truque para garantir a sangueira!

# O “Código de Honra”, que libera o sangue e muda alguns fatalities, deve ser feito na tela que aparece na abertura, contendo um texto sobre o tal código. Nessa hora, faça 2, 1, 2, baixo, cima, baixo. Se der certo, o texto some e aparece a mensagem “Now Entering Kombat” confirmando.

# Esta não é a única versão de Mortal Kombat a ser portada para Master System. Também saíram MK2 e MK3. A segunda versão corrigiu praticamente todos os erros do primeiro, como a defesa, detecção de colisão,  músicas e o acréscimo de um stage fatality, além de melhorar gráficos e movimentação, sendo a melhor versão de MK no Master System e nos 8 bits. Já MK3 foi uma tremenda decepção; portado do Game Gear, o jogo manteve apenas o que tinha de ruim nas versões anteriores.

Golpes e fatalities:

Penso que reviews, especialmente os de games antigos, são um convite para jogar o game do qual se está falando, seja para conhecer, seja para fazer aquele revival dos bons tempos de locadora. Enfim, anexo ao meu convite segue a lista de golpes para que você não precise ficar tentando lembrar como eles eram. Na real, se você jogava nos arcades ou nos consoles 16 bits vai ver que estão iguaizinhos, a diferença acontece se você colocar ou não o Código de Honra. Você pode jogar sem ativar o sangue e os fatalities mais violentos, mas convenhamos que assim a diversão cai pela metade, ora essa!

Fatality! Os responsáveis pelo port não deixaram nenhum de fora. Quer dizer, exceto o stage fatality de The Pit...

Legenda
(T) Trás
(F) Frente
(C) Cima
(B) Baixo

Igual para todos
Botão 1 – Soco
Botão 2 – Chute
Trow (balão) – Colado com o oponente, T+Soco
Defesa – Segure T+Soco
Gancho – B+Soco
Rasteira – T+Chute

Sonya
Energy rings – T, T, Soco
Square wave fly – F, T, Soco
Leg grab – B, Soco+Chute
Fatality – F, F, T, T, Soco+Chute (difícil de sair)

Jhonny Cage
Fire Ball – T, F, Soco
Shadow Kick (perto) – T, F, chute
Ball Breaker – Colado com o adversário, faça rapidamente  Soco, Chute (na sequencia)
Fatality (perto) – F, F, F, Soco

Liu Kang
Fireball high – F, F, Soco
Flying kick – F, F, Chute
Fatality (perto) – T, T, B

Rayden
Lightning – B, F, Soco
Torpedo – T, T, F
Teleport – B, C
Fatality (perto) – F, F, T, T, Soco
*Fatality (perto) – T, T, T, Soco

Scorpion
Spear – T, T, Soco
Teleport punch – B, T, Soco
Fatality (a uma rasteira) – Defesa, C, C, Soco

Sub-Zero
Freeze – B, F, Soco
Slide – T, T, T, Soco+Chute
Fatality (perto) – F, B, F, Soco

*Movimento se não ativar o Código de honra

Avaliação Final

Gráficos: 9/10
Som: 4/10
Músicas: 6/10
Jogabilidade: 8/10
Desafio: 10/10
Geral: 7/10

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  1. 29, junho, 2010 em 11:21 | #1

    E pensar que eu vi esse lançamento, eu vivi nessa epoca de ouro dos videogames onde graficos nao eram tudo como hoje em dia. Uma pena mesmo que tenhamos ficado tao reducionistas e graficistas assim.

    Parabens pelo review!!!

  2. 29, junho, 2010 em 11:46 | #2

    Eu lembro que jogava o MK2 do Master System na casa do meu primo! Foi um dos primeiros games que joguei! Bons tempos aqueles 😀

  3. 29, junho, 2010 em 13:37 | #3

    Eu gosto tanto do Mk1 quanto do MK2 para o console, o MK3 pode ficar no lixo.

  4. 29, junho, 2010 em 16:55 | #4

    Poxa, bem pensado em colocar os golpes! Sempre que leio um review interessante, dou uma jogadinha no jogo (conhecendo-o ou não)…

  5. 29, junho, 2010 em 19:16 | #5

    Excelente review Flavio!

    Costumo dizer que um bom review é aquele que dá a vontade de jogar um game logo depois de ler, e este tem isso – inclusive ótima idéia trazer todos os golpes do game.

    Não conheço este game (como já disse, aliás, os games de Master em geral) mas as imagens deixam uma ótima impressão gráfica, bem impressionante para um sistema de 8 bits.

    Uma boa coversão de um jogo p/ um sistema inferior, na minha opinião, não é quando todos os elementos gráficos e sonoros estão presentes (mas lógico que fazem falta…) mas sim quando no geral o game te passa a sensação de jogabilidade e ambientação próprias do game original.

    E MK para Master System parece conseguir tal feito.

  6. Kzduardo Oliveira –
    12, agosto, 2010 em 07:24 | #6

    Otimo review!!
    Voltei no tempo agora…Alugava muito quando não tinha Masters of Combat disponivel!
    Ah tem detalhes interessantes que faltaram: pra facilitar as coisas, alguns golpes foram modificados da versão arcade para esse porte!
    Exemplos:

    LIU KANG
    Fatality: T,T,B (perto)

    JOHNNY CAGE
    Ball Breaker: Soco depois Chute ( na sequencia )

    SUB-ZERO
    Slide: T,T,T Soco + Chute

    SONYA
    Fatality: F,F,T,T Soco + Chute

    ( parece que ja havia essa ideia de usar soco + chute como defesa, mas só foi melhor aproveitada no MK II )

    • Flavio Master
      24, agosto, 2010 em 16:11 | #7

      Obrigado, Kzduardo, pelas dicas. Fiz questão de consertar a move list no review.

      Eu já havia conseguido fazer o Fatality da Sonia e do Liu Kang, mas apenas UMA vez em todos esses anos e, pelo jeito, na cagada! O mais curioso é que nas duas revistas que li na época os golpes eram descritos assim mesmo, tal qual nos consoles 16 bits e no arcade. Sempre pensei que eram difíceis e pronto, tipo uma mancada absurda da third party que adaptou. Pelo jeito, você descobriu um segredo desse game, e isso é o grande tema amplo do nosso blog. Sendo assim, parabéns por decifrar essa!

  7. Pablo Marques
    4, junho, 2022 em 11:39 | #8

    Cara, bugados ou não sou apaixonado por estes ports feitos para os consoles caseiros, especialmente os de geração anterior. Naquela época não era sempre que podíamos estar nos fliperamas, e um “quebra galho” desses em casa matava a seca.

  8. 20, julho, 2022 em 11:42 | #9

    Verdade, Pablo! É igual o Street Fighter 2 da Yoko Soft pro NES. Era o que tinha e, mesmo considerando ser um bootleg, fez sucesso pra caramba.

  1. 29, junho, 2010 em 14:07 | #1
  2. 23, abril, 2011 em 01:36 | #2

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