Bayonetta e as homenagens e referências à Sega
Já jogou Bayonetta? Não? Faça isso antes de morrer, por favor. Sério: até agora, é um dos jogos em que mais me diverti aqui desde que comprei o Xbox 360, e inclusive pesou bastante no fato de ter escolhido a caixa preta maldita ao invés do Playstation 3, uma vez que o console da Sony recebeu uma conversão bem maltrapilha. O jogo da Platinum Games é espetacular, extravagante, extremo. É como se não existisse limite no exagero; a cada momento, um bombardeio de excelentes visuais, criaturas enormes e cenários épicos. Tudo apresentado através de gráficos sensacionais e uma trilha sonora incrível, misturando jazz e música clássica, acompanhados de uma jogabilidade fluida e divertida. A única lamentação está na história e no roteiro, que não apresenta muita coerência. Porém, definitivamente, a narrativa serve aqui mais como acessório para as estripulias interativas de Bayonetta, que são o foco do jogo.
Falando em foco, é melhor deixar essa rasgação de seda e ir direto ao assunto do tópico. Bayonetta é cercado de referências a tudo: passando pela arte e a cultura pop até o cinema e outros jogos, o título parece um Scott Pilgrim dos games, procurando prestar uma homenagem a quase tudo. Mas de todas as intertextualidades, as mais notáveis com certeza se referem à Sega, principalmente por serem bem mais escancaradas e gratificantes ao retrogamer que se prestar a conferir o game. Como o diretor Hideki Kamiya é fã dos títulos mais clássicos da empresa, o designer fez questão de inserir o maior número possível de alusões a sucessos das antigas como Space Harrier, After Burner, Hang On – sobrou até mesmo para o Sonic. Sem dúvida, essas referências todas só serviram para brilhar ainda mais os olhos deste pobre diabo que, sendo viúvo da Sega, jogou um excelente game que ficou ainda melhor com tanto fan service.
E você que jogou, chegou a reparar em todas essas homenagens? Sem mais delongas, vamos lá (caso não tenha jogado e queira ser surpreendido, nem clique!).
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Eggman e as argolas de Sonic
Logo após o prólogo, somos imediatamente apresentados a uma fala que pode referenciar a um personagem bem conhecido:
Esse “Eggman” não é um personagem do jogo, e nem é citado em outro lugar além do trecho acima. É um pedaço aleatório em meio ao diálogo. E você, como uma pessoa esperta, sabe muito bem qual outro Eggman conhecemos na “cultura gamer“, certo? Junte isso à semelhança física entre o vilão e o personagem que diz essa fala no jogo e a sacada é quase que imediata – ou não, já que, à essa altura, ainda no começo, talvez muita gente não saberia ainda que Bayonetta teria um carnaval de referências dali por diante.
Outra possível menção ao ouriço está nos “halos”, anéis dourados que a heroína coleta ao derrotar inimigos e quebrar objetos, que servem como moeda para comprar novos itens, armas e… pirulitos Fora o nome, não há diferenciação alguma desses objetos para com as famosas argolas do Sonic, certo? Julgue.
Atualização: No caso das argolas em Bayonetta, o próprio Hideki Kamiya confirmou no twitter que elas originalmente não tem nada a ver com Sonic. Então fica apenas na semelhança mesmo!
https://twitter.com/PG_kamiya/status/308096549857136640
Virtua Fighter e o tetsuzanko
O tetsuzanko é um famoso golpe do Akira de Virtua Fighter, que, tira uma boa parte da energia do adversário quando aplicado corretamente. Bayonetta também pode desferir esse ataque com o comando trás e frente+Y (ou triângulo no PS3), tirando uma boa porção de dano do inimigo ao custo de um pouco de poder mágico. Para reforçar ainda mais a alusão, ao desferir o tetsuzanko no final de um confronto que valha a medalha Pure Platinum à personagem (ou seja, um alto combo no menor tempo possível sem sofrer dano algum), a heroína diz “Juunen hayaindayo”, o grito de vitória do protagonista de Virtua Fighter.
Fantasy Zone e o peso
Os Torture Attacks são ataques especiais desferidos ao reunir certa quantia de poder mágico, e, quando não liquida de vez o inimigo, tira um dano enorme. A maior parte desses golpes envolve apertar repetidamente um botão para determinar a potência da tortura. Ao atingir a força máxima, um dos vários ataques ilustra um peso de 16 toneladas caindo sobre o oponente:
Agora, por que justamente “dezesseis toneladas”? Simples: é o mesmo peso da Heavy Bomb do Fantasy Zone, jogo de tiro estrelado por Opa-Opa – que foi, inclusive, uma das primeiras matérias que escrevi aqui no blog #merchan.
E não é só isso: o Boss Theme do arcade de Fantasy Zone serve como trilha sonora em algumas fases, em uma versão rearranjada pelo próprio compositor, Hiroshi “HIRO” Kawaguchi. Confira abaixo o remix e a versão original, que também pode ser reproduzida ao segurar LT+LB (ou L1+R1) antes de iniciar a fase onde toca a respectiva música.
Original – http://www.youtube.com/watch?v=OYl5wBPGNdA
Remix – http://www.youtube.com/watch?v=b-8M9Q4w-eM
A rádio de Outrun
Existem duas referências musicais à trilha sonora desse clássico de corrida (ou de “direção”, como diria Yu Suzuki). A primeira é logo em uma das primeiras cutscenes: o rádio do carro de Enzo (aquele que falou do Eggman) está tocando a célebre Magical Sound Shower
Mais adiante, no capítulo 8, há uma batalha sobre carros em movimento na estrada Route 666 – que inclusive é praticamente uma fase inteira dedicada à Sega. Como trilha sonora para o confronto, um remix sensacional da Splash Wave, também rearranjado pelo Hiro.
https://www.youtube.com/watch?v=thQW3CUa2kI
After Burner e Hang On
Mas a homenagem não para por aí: na segunda parte do capítulo 8, na Route 666, Bayonetta se vê em uma perseguição de motocicleta, que claramente homenageia Hang On. Compare só a fonte da palavra “Motorcycle” na tela de tutorial com a imagem título do arcade de 1985:
Para completar, a trilha sonora desse trecho é uma nova versão do tema de After Burner, coroando uma das melhores partes do jogo inteiro.
Original: http://www.youtube.com/watch?v=Z8IRq6HdAIU
Climax Mix: http://www.youtube.com/watch?v=7-O9iLfYVPo
Além disso, um dos ataques especiais que podem ser adquiridos posteriormente pela heroína tem um nome muito peculiar: After Burner Kick. Ao executar o comando requerido, Bayonetta dá uma voadora em uma posição e velocidade que se assemelha a um míssil, fazendo jus ao trocadilho.
Chega de After Burner? Nem tanto…
Space Harrier
“Welcome to MY Fantasy Zone! Get Ready!” É assim que Bayonetta inicia o capítulo 14, o ápice do seguismo no jogo. A fase consiste em um segmento de tiro igual a Space Harrier, com direito aos mesmos efeitos sonoros do arcade de 1985. O fato é que esse jogo é um dos favoritos do diretor Hideki Kamiya, por isso ele fez questão de incluir um segmento homenageando o clássico de Yu Suzuki – para os orgasmos da viuvada. Começa aos 1:30 do vídeo abaixo.
Nos controles, há uma mistura entre Space Harrier e After Burner, com a opção de atirar, lançar mísseis e até mesmo dar o barrel roll como esquiva. E, assim como no trecho da motocicleta, não poderia faltar a homenagem sutil na tela exibindo os controles. Veja a fonte utilizada no nome “Missile Operation”…
E compare com a fonte do título “After Burner”
SDI – Global Offensive
Essa é uma que só os fãs hardcore mesmo irão sacar. Próximo ao final do jogo, há uma “Boss Parade”, ou seja, acontece aquele momento básico em que todos os chefes do jogo retornam para um último confronto antes da batalha contra o chefão final. Em uma dessas lutas, há um canhão que é introduzido para auxiliar no combate. Os controles do mecanismo estão abaixo:
Não sacou a fonte da palavra “Cannon”? Que vergonha, hein! Definitivamente você não é um estudioso da Sega de verdade! Ela se refere ao obscuro SDI – Strategic Defense Initiative, convertido para o Master System com o nome Global Defense
Zillion
Para finalizar, existe este quarteto de pistolas laser chamadas “Bazillions”, habilitados após entrar com um código secreto no jogo. Óbvio que elas são uma referência ao anime/jogo Zillion, com aquela pistola característica do Master System.
Concluindo…
Ainda existe um zilhão (ha!) de homenagens, referências e easter eggs em Bayonetta; seja a trabalhos anteriores de Kamiya-san e sua equipe (como Resident Evil 4, Okami, Viewtiful Joe e, claro, Devil May Cry) assim como outros jogos que estão entranhados na cultura gamer em geral. Vale a pena jogar para conferir essa variedade de citações, e depois se perguntar que tipo de coisas poderemos ver em Bayonetta 2 para o Wii U. Uma corrida com Bayonetta em cima de um Yoshi, derrapando ao som da música de Daytona? Quem sabe 🙂
Sacou algum easter egg em Bayonetta? Coloca aí nos comentários!
Já tinha vontade de jogar esse jogo, agora, sabendo dessas referências fiquei com mais vontade ainda de jogar. Com certeza será uma das minhas próximas aquisições.
Ótimo post!
Compra isso logo, você não sabe o que tá perdendo!
Faço das suas palavras as minhas, assim que puder irei comprar esse jogo para minha coleção também ^^
Bayonetta é meu jogo favorito dessa geração ao lado de Mario Galaxy, mas a versão de PS3 não está tão ruim assim como você disse. Mais feia sim, mas não é uma desastre, na verdade é completamente jogavel XD
Ah, eu só disse que era maltrapilha, nem é tão ofensivo assim 😛
Referências à Sega no GTA, no Bayonetta. De fato, a Sega marcou época.
Duas coisas que mal lembram a Sega não podem ser contadas como referências no meu ponto de vista.
Acho que você refere-se ao post sobre as referências da Sega em GTA, correto? Cara, não tem como um Mega Drive "mal lembrar" a Sega, combinemos.
Não me entendem errado. Eu amo a Sega, mas aquilo no San Andreas nem parece um Mega Drive. Parece mais Playstation 1 Preto.
Caramba, quase um Segagaga da nova geração!
O impressionante é que o jogo toma a liberdade de não somente fazer referências discretas, das quais apenas os fãs mais atenciosos perceberiam. Não, pelo contrário, ele joga na cara das viú… digo… dos fãs de todos esses clássicos da Sega (eu incluso) de maneira quase que escandalosa. Muito bom, se eu encontrar Bayonetta por um preço camarada vou comprar, sem dúvida.
Ótimo post.
Pega sim, vai ser uma experiência única, ainda mais devido a essas esfregadas na cara da sociedade ^^
Hahahaha, excelente matéria, Rafa!
Eu tinha captado metade dessas referências, as demais eu realmente não fazia idéia (como os menus / tutoriais com a fonte dos jogos homenageados). Deu até vontade de jogar novamente esta obra prima dos joguinhos… Eu meio que abandonei o game por um tempo, ainda quando estava tentando platinar. Mas pretendo voltar a ativa jogando-o novamente.
Parabéns pelo exímio post! 😉
Thanks J! Depois de ter zerado pela primeira vez, abandonei por um tempinho. Agora tô jogando de novo pra platinar, se bem que acho isso meio impossível. Ainda mais porque esqueci todas as manhas, rs. Mas não custa nada tentar, o jogo é viciante mesmo 🙂
Cara, excelente matéria.
Deu até vontade de jogar de novo esse jogo, fazer as coisas que tem que fazer e sacar as referências não só da Sega, mas de outras coisas da cultura pop também.
Tipo do Luka (esqueci como escreve o nome do cara) falando das ex-namoradas dele: Trish, Claire, Silvia e Ammy.
Alguma familiaridade com as musas da Capcom? 😛
Tá feito, jogarei novamente quando puder, graças ao post animador.
Sim sim! Eu também reparei nesse das ex-namoradas! É praticamente uma surpresa a cada cutscene. Por isso que adoro esse jogo.
Boa jogatina e, se achar alguma referência e lembrar desse post, avisa aqui ^^