Space Harrier – Conversões para consoles

Space Harrier – Master System (1986)

Há um enorme abismo entre o Arcade e essa versão para Master System – para se ter uma ideia, o número de cores que o Master System podia reproduzir em tela era 10 mil vezes menor do que a placa de arcade usada para o jogo! Como o hardware de 8-bits não possui poder de processamento suficiente pra permitir um efeito de scaling por software fiel ao arcade, a solução foi improvisar, criando um sprite para cada plano de distância conforme o elemento se aproximava da tela.

 

Essa técnica, aliada a alguns truques de scrolling, tornou o jogo em um dos de melhores gráficos já visto para o console. Sendo assim, não é a toa que, bem na capa do cartucho, é anunciado que possui 2 mega de memória. Nos limites do console, foram muito bem aproveitados, por sinal. Detalhe para os sprites que surgem na tela, em que fica perceptível que estão em forma de “blocos” da mesma cor do céu de fundo da fase. Uma pequena falha perdoável.

Atingindo mais um ponto fraco do hardware, o som também consegue fazer bem o seu trabalho, apesar das limitações dos 4 canais de PSG (Programmable Sound Generator) do chip de som do SMS. Todos os temas foram adptados com fidelidade e os efeitos sonoros… Bem… Se já não eram grande coisa no arcade, imaginem na conversão para o console. A surpresa fica por conta das vozes digitalizadas: Harrier ainda grita de dor quando morre e, ao retornar, fala “Get Ready”. Apesar desses samples de voz serem mais roucos do que um otorrino poderia avaliar, ainda é algo surpreendente.

Confira o tema de Space Harrier no chip de som do Master System:

Space-Harrier-(SMS-Version)-Hiro

Em suma, a versão de Space Harrier para Master System foi bastante fiel à original, apesar, é claro, da discrepância envolvendo o console e a dupla de processadores MC68000 da placa de arcade da Sega. Ainda assim, o game é perfeitamente jogável. Muita gente que não tinha acesso ao jogo nos fliperamas (como nós, brasileiros) poderia tê-lo em casa, com toda a glória e esplendor do cartucho de 2mbit.

Space Harrier – Famicom (1989)

Por incrível que pareça, muitos arcades de sucesso da Sega tiveram suas versões para o Nintendinho. O fato destes títulos serem convertidos por softwares thirdy-party pode explicar parcialmente o porquê deles não serem tão conhecidos; no caso de Space Harrier, a responsável pelo trabalho seria a Takara – que ficou famosa posteriormente por converter clássicos da SNK para os consoles de 16-bit.

E – Nintendistas, cuidado! – essa versão é inferior à do Master System. Os efeitos de scroll são equivalentes, mas o número de sprites referentes aos planos de distância dos inimigos é muito menor do que os presente no cartucho da Sega de 2Mbit. Em resumo, uma hora os inimigos estão longe e, quando menos se espera, já estão em cima de você. Não é algo que torne impossível de jogar, mas o desafio de passar ileso por uma série de obstáculos se torna muito maior – ainda mais quando o controle do Harrier é mais preso comparado à sua contraparte no Master System. Há também um número bem menor de sprites na tela, diminuindo bastante o número de filas de inimigos vindo na direção do personagem. O som é equivalente ao do SMS, com as óbvias alterações na instrumentação – já que os chips de som são diferentes.

Para aqueles que não podiam comprar o Mega Drive, o game era uma boa opção, apesar das falhas.  Genesis Does What Nintendon´t? Depende do ponto de vista… Comparando qual conversão ficou melhor, a versão para SMS ganha, por ter gráficos mais fluidos e melhor jogabilidade.

Space Harrier 3D – Master System (1988)

Na verdade, essa é mais um “upgrade” do port de Space Harrier para o SMS do que qualquer outra coisa. Fazendo uso dos infames óculos 3D do Master System – esse mesmo, o que dava dor de cabeça – o jogo promovia melhores gráficos e, de fato, toda uma imersão tridimensional dentro de casa.

O game possui bons gráficos, inclusive com sprites um pouco mais definidos em relação à versão anterior. Em compensação, a movimentação dos sprites é bem menos fluida do que anteriormente, gerando uma jogabilidade mais “travada”, com um scaling lento e até irritante.

Ainda assim, é algo de nível decente para o Master System, ainda mais com os óculos 3D

O cartucho também possuía uma versão com som sintetizado por um chip de som FM, que foi um add-on disponibilizado apenas para o território japonês. Assim, o áudio do jogo era melhorado bastante, se assemelhando ao de um Mega Drive – que também possuía um chip baseado em sintezador FM – por exemplo. O resultado não agradava a todos, mas era um considerável avanço em relação aos sons anteriores, muito limitados.

Confira o tema rearranjado pelo chip de som FM do Master System

Space-Harrier-(FM-Version) – Hiro

Se um dia tiver que escolher entre os dois, fique com o original. Não compensa ganhar uma dor de cabeça gratuita para jogar o game

Space Harrier II – Mega Drive (1988)

Para promover o lançamento do console, a Sega decidiu dar continuidade à série no Mega Drive, como parte da campanha “We bring the arcade experience home”. O receptividade foi enorme, impressionando a todos com o poder do console de processar gráficos daquela forma, que até então era o mais próximo possível do arcade.

 

O problema é que isso não quer dizer que a versão original de arcade e a continuação se

Reunião de designers na Sega: "Vamos misturar os animais e ver no que dá!"

equivaliam. Ainda assim havia um grande abismo separando as capacidades de ambos os sistemas e, mesmo que ninguém tenha notado na época, isso é mostrado de forma clara aqui. Os gráficos são bons, porém ainda assim há pouca fluidez nos comandos. Mesmo com o console no início de vida, o jogo poderia ter explorado mais o seu potencial. No entanto, os efeitos de scrolling são lentos, a jogabilidade é lenta, enfim, é tudo um pouco arrastado, ainda usando aquele velho truque de “um sprite para cada plano”. Para aqueles acostumados com a versão de Arcade, deve ter sido um baque. Mas isso – creio eu – foi compensado com o fato de, não só ser algo muito próximo ao original, como também tratava-se de uma aventura totalmente nova de Harrier.

Em suma, os gráficos são bem mais ou menos. Aquela sensação de lentidão é perceptível, principalmente para quem já sabe que o console pode fazer – e, de fato, fez – muito melhor do que aquilo. Space Harrier II acaba entrando na categoria de ports de arcade que poderiam ter se saído muito melhor se não tivessem sido feitos às pressas, como Golden Axe, Super Thunder Blade e Altered Beast.

Tartaruga com três cabeças? wow!

O som é razoável. As músicas foram compostas por Tokuhiko Uwabo, ou simplesmente Bo. Responsável pelas conversões das músicas das versões anteriores de Space Harrier para o Master System, o compositor – junto com o Hiro e vários outros – produziu várias músicas memoráveis dessa fase de ouro da Sega, como as trilhas dos jogos da série Phantasy Star, Columns, Castle of Illusion e o viciante tema do Alex Kidd. Para o SH II, foi criado um novo tema musical, com qualidade equivalente ao tema original. Ouça aqui

Space-Harrier II Theme – Bo

Assim como no original, esse tema vai se repetindo pelos estágios, alternado apenas pelo tema dos chefes. As músicas possuem instrumentação muito simples, o que indica que não houve muito tempo para pesquisa do que o chip de som do Mega Drive poderia sintetizar. Os efeitos sonoros são normais.

Do original, nada mudou em relação à jogabilidade. A única diferença agora é que pode-se escolher o estágio de início, tendo cinco mundos diferentes como opção. No fim das contas, não faz diferença começar por um ou outro.

Space Harrier II é um daqueles jogos icônicos, ou seja, que representam o ciclo de vida de um console. Como grande sucesso que foi, caracterizou o início do Mega Drive como o de uma máquina de arcade em casa. Apesar da adaptação do universo de Harrier ter sido aquém das reais capacidades do console, o jogo diverte por um bom tempo. Basta apenas ignorar o frame-rate lento que dá tudo certo

Space Harrier – 32x/Saturn/Dremcast (1994/95/2001)

Quase 10 anos depois, eis que ressurge o clássico para o infame hardware da Sega. Aproveitando-se de todo o poder do add-on 32x, tivemos uma conversão igual ao arcade em todos os sentidos. O jogo tem os mesmos gráficos, som e jogabilidade.

Agora sim temos um port em que se pode dizer que está fiel ao arcade, mas… Quem comprou o 32x?

Além disso, o jogo despertou pouco interesse, já que era baseado num arcade antigo, muito mais barato de se jogar já naqueles tempos. Ninguém iria comprar com tantos (?) jogos novos como alternativa. Isto significa de, das 3 pessoas que compraram um 32x, apenas uma adquiriu o jogo.

Vale citar que o game também teve um port para o Sega Saturn, em um disco que vinha junto com Outrun, After Burner e Power Drift. Como extras, as músicas no formato Redbook – ou seja, dava pra ouvir em aparelhos de som convencionais – e compatibilidade com o controle analógico, permitindo precisão de movimentos tão iguais aos da cabine de arcade original.

Em 2001, uma conversão do arcade estava disponível no jogo Shenmue, junto com Hang On, After Burner e entre outros arcades que o personagem Ryo Hazuki encontrava a seu dispor no fliperama da cidade. Apenas parte das músicas tiveram a instrumentação alterada, mas é praticamente imperceptível.

Sega Ages 2500 Vol 04: Space Harrier –    Playstation 2 (2003)

Fruto de uma parceria entre a Sega e uma produtora chamada D3, a série de jogos Sega Ages 2500 consiste na releitura de clássicos em versões 3D poligonais. O “2500” significa o preço do jogo em ienes; o que quer dizer “liquidação”. Partindo dessa premissa, pode-se concluir que os remakes eram de baixo orçamento, e todos os games da série mostravam isso claramente.

Com gráficos dignos de Sega Saturn e jogabilidade mal adaptada, chegou um ponto que nem a Sega aguentou mais, desistindo do projeto e passando a utilizar a nomenclatura “Sega Ages” para lançar apenas coletâneas dos jogos originais, sem remakes. No Ocidente, os 10 primeiros volumes foram lançados num disco só, chamado de Sega Classics Collection

E o remake do clássico de tiro? Bem… Os sprites viraram construções poligonais (que nem de longe representam os sprites antigos e o quanto impressionavam na época), as músicas foram remixadas e viraram techno, e a jogabilidade conta agora com as frescuras que havia falado na primeira parte, ou seja, adição de power-ups e um sistema de lock-on na mira dos inimigos, semelhante a Panzer Dragoon. Essas adições não são interessantes no papel e nem na prática, mas em compensação não chegam a macular o trabalho original, como alguns outros remakes da série Sega Ages. No fim das contas, o game é apenas mediano, mas faltou aquela coisa a mais. Comparando com outros remakes da série Sega Ages, está bom até demais!

No volume 20, foi lançado o Space Harrier Complete Collection, com o jogo de Arcade, seu port para o SMS, Game Gear Space Harrier 3D e o Space Harrier II para o Mega Drive. Todos os games são versões emuladas, mas que perdem pouco em qualidade – apenas a incidência de slowdowns é um pouco maior na emulação de Space Harrier para arcade, mas nada que atrapalhe a diversão.

Vale lembrar também que Space Harrier teve um cenário em Sega Superstars Tennis, multi-plataforma lançado em 2008. No mini-game referente ao clássico da Sega, o jogador tinha que destruir o maior número de inimigos com a bola de tênis. Vale mais pelos remixes do tema musical de Space Harrier.

O legado

Space Harrier inaugurou uma fase de ouro da Sega nos arcades, tornando-a líder no segmento e, consequentemente, na guerra de consoles que encararia futuramente. Seu legado inspirou uma série de títulos baseados na nova tecnologia que apresentava, sendo Shot´em Ups ou não. Tudo isso se deve à genialidade do visionário Yu Suzuki, que sempre buscava novas experiências de jogabilidade; não é a toa que foi o responsável por várias revoluções gamísticas, como a que introduziu a jogabilidade completamente 3d, com elementos poligonais como visto em Virtua Fighter.

Dê o melhor nome ao animal e concorra a prêmios!

Lamentavelmente, não joguei Space Harrier na minha infância. Descobri esse jogo há pouco tempo, revisitando alguns clássicos da Sega, e por murmurar a música-tema há um pouco tempo (Será que existe mais alguém que conhece a trilha sonora antes de jogar o game? Duvido…). Realmente é um jogo que diverte até hoje, se não se importar com os gráficos e som ultrapassados.

Infelizmente, com o fracasso de Shenmue, Suzuki anda em baixa na Sega, o que significa que uma continuação direta da série não virá tão cedo. Porém, se Outrun teve uma continuação 20 anos depois, porque não alimentar uma esperança? Os fãs aguardam…

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  1. 23, dezembro, 2009 em 18:41 | #1

    Space Harrier!! Joguei no Master e no mega!!

    No master é só ficar dando voltas totais na tela e atirando que é fim de jogo sem morrer ahUAHuhauH

    belo tópico ^^

  2. 31, janeiro, 2010 em 20:11 | #2

    Você esqueceu de citar a vesão de Space Harrier portada no PC-Engine em 1988.

    • 00Agent
      31, janeiro, 2010 em 21:11 | #3

      Não esqueci. Citei as conversões mais conhecidas ou que despertariam maior interesse. Se não, teria que falar das versões do PC Engine, do X68000, do Commodore 64, do DOS… Mais algum?

  1. 23, dezembro, 2009 em 19:26 | #1

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