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Análise: O som remasterizado de Sonic para Android

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Se começar a contar, provavelmente enlouquecerá. Sonic The Hedgehog já foi relançado para pelo menos uma dúzia de plataformas desde seu lançamento em 1991; já tivemos ouriço no Saturn, Dreamcast, Playstation 2 e 3, Xbox original e 360… Todos consoles parrudos e poderosos, sem falar dos portáteis, como a versão de GBA (HUE). É muito curioso então que a versão definitiva do clássico de Mega Drive se encontre atualmente nos dispositivos móveis – sim, nos tablets, smartphones, Ouyas e qualquer outra porcaria que inventarem. Com dimensão de tela em 16:9 widescreen, menus arrojados, modo Time Attack e vários extras como o debug mode e a possibilidade de jogar com Tails e Knuckles, essa nova revitalização do jogo, lançada para Android e atualizado para iOS no dia 17 de maio, é um verdadeiro trabalho de luxo realizado de fã para fã. Recomendadíssimo.
Mas uma das principais especialidades desta adaptação está no som “remasterizado”. Com vários desleixos feitos nesse aspecto em conversões do passado (e o vídeo de exemplo é apenas um dos casos), é de se preocupar sobre como o áudio do original de Mega seria representado dessa vez. E aliás, quem realmente se interessa no assunto sabe que nem sempre as expressões “remasterizado” e “fiel ao original” andam juntas. Por isso, vamos lá: como ficou o som de Sonic para Android e iOS?

“Mais definido” significa “melhor”?

Direto ao assunto: o jogo não emula o chip de som do Mega Drive, preferindo usar uma engine particular que reproduz todo os sons do jogo pré-gravados no formato .ogg a uma taxa de compressão de 96 kbps. Não somente isso poupa o trabalho da CPU, como também permite algumas melhorias no áudio em geral antes de ser transferido para o jogo; um exemplo são os efeitos sonoros, que, além de claros e fieis à fonte, não mais interrompem os instrumentos da trilha sonora como ocorria no Mega Drive, coisa que ocorria devido à limitação de canais sonoros do chip presente no console. Porém, o destaque mesmo fica para as músicas, compostas por Masato Nakamura, que, junto com o departamento de som da Sega – responsável pelos arranjos – conseguiu produzir uma das trilhas sonoras mais memoráveis da história dos games.
Para quem é fã do Sonic a ponto de ter ouvido as músicas do primeiro jogo por um porrilhão de vezes (o caso aqui, desculpe o pedantismo), é possível perceber logo de ouvido as mudanças na mixagem sonora. Os timbres estão mais audíveis e expandidos entre os lados esquerdo e direito do espaço estéreo – quem usa fones de ouvido vai notar de primeira com certeza – ou seja, os harmônicos, acordes e melodia estão mais perceptíveis, “aparecendo mais na música”. Para comparar, ouça a Green Hill Zone do CD Sonic 1&2 Soundtrack, lançado em 2011, e a versão que temos no relançamento de Android.

Uma dica legal é colocar as duas faixas para carregar, ir tocando alguns segundos, e depois dar o play e reproduzir o mesmo instante na música abaixo, e vice-versa.

Green Hill Zone (Mega Drive)

Green Hill Zone (Android)

PS: Se você não ouviu diferença alguma entre as duas faixas, pode dar adeus ao post. Não tem mais nada pra você aqui. Se quiser, fique à vontade para me xingar nos comentários.

Se você persiste mas ainda tem dificuldades para discernir, a Spring Yard pode esclarecer melhor. Invertendo na ordem agora, primeiro a versão remasterizada no Android:

Spring Year Zone (Android)

E agora, no Mega Drive. Note como a música está bem mais grave e “centralizada”, sem muitos sons destacados para o lado esquerdo ou direito da mixagem.

Spring Year Zone (Mega Drive)

Sem dúvida, o trabalho de remasterização parece ter sido algo muito cuidadoso com o original. Mas, se reparar bem, as novas versões perderam um pouco do impacto, soam menos agressivas em relação ao naturalmente histérico e ruidoso YM2612 do Mega. Sim, tudo no Android está mais nítido e claro, mas será que necessariamente está melhor? Aí vai de cada um. Vamos tentar destrinchar melhor isso aí.

Mexendo nos tímpanos

Subjetividades à parte, uma mudança técnica é bem perceptível: a bateria e a percussão estão mais claros, ou, como diria um charlatão qualquer, “cristalinos” (como odeio essa palavra). Aliás, o bate estaca até está um pouco diferente: o som dos pratos, antes gerado no Mega Drive pelo canal de ruído do PSG (o mesmo chip do Master System) presente no console, foi substituído por um som mais autêntico de hihat, provavelmente retirado de alguns desses samples de kit de bateria que existem por aí. A melhor forma de reparar nisso é na Star Light Zone, que só conta com os hi-hats e o bumbo ditando o ritmo.

Star Light Zone (Mega Drive)

Star Light Zone (Android)

Já o som da caixa de bateria recebeu um tratamento especial: como o chip FM do Mega Drive sintetizava timbres meio capengas de percussão, vários músicos pegavam um som de caixa de bateria de alguma coleção de samples. No jogo, elas eram reproduzidas pelo único canal PCM da placa de áudio, encarregado de reproduzir todos os sons pré-gravados. Quebrava o galho, mas nem precisa dizer que isso trazia alguns decréscimos: esses samples tinham de ser comprimidos ao máximo para ocuparem o mínimo de espaço possível no cartucho, sem falar que o Mega reproduzia esses sons à resolução de apenas 8-bit (o CD, por exemplo, é em 16-bit), então o som já vinha meio “rachado”, independente de quão comprimido ele estivesse.

Outro problema é que, como o coitado do Mega Drive possui apenas um único canal para esse tipo de áudio pré-gravado em PCM, os samples de áudio acabam entrando em conflito uns com os outros. Yuzo Koshiro, por exemplo, sabia driblar essa limitação de uma forma inacreditável; mas, em Sonic 1 e em vários outros jogos do 16-bit da Sega, se alguma voz era reproduzida, a bateria engasgava (desconsiderando aqui os primeiros jogos do Mega, como Golden Axe e Altered Beast, que paravam o som TODO só para reproduzir as vozes).

Como a versão de Android não emula o YM2612 e suas limitações, o responsável pela remasterização sanou esse problema em uma das músicas do Sonic onde isso mais ocorre: a Scrap Brain Zone. O ritmo dela é determinado pela bateria com alguns sons de tímpanos; ambos samples pré-gravados que brigam constantemente entre si durante a execução.

Ouça um pouquinho da música no Mega e tente ouvir o som da bateria sendo engolida:

Scrap Brain (Mega Drive)

Não ouviu direito? Agora com certeza você vai reparar; só o canal de PCM ligado.

Scrap Brain Zone (Drums)

E agora, na remasterização… Sim, o bateirista e o percussionista não precisam mais brigar!

Scrap Brain (Remastered)

E então?

O fato é: a música remasterizada está bem mais clara aos ouvidos. Agora é possível ouvir praticamente todos os instrumentos, os acordes saltam, os timbres estão mais limpos, alguns problemas técnicos foram corrigidos. Isto significa que ela vence na comparação? Talvez não. Se você ouvir por um outro ponto de vista, as originais no Mega podem parecer em pior qualidade, mas também são muito mais agressivas e encorpadas justamente devido a essa leve distorção inerente ao chip de som do Mega. Tal “impacto” sonoro não é tão percebido nas versões remasterizadas, cuja predileção pela pureza acaba por amaciar todo aquele som mais “quente” e sujo do sintetizador do Mega. A comparação é quase ouvir uma música antiga no LP e logo depois a sua versão digital em CD: o som novo pode estar claro, mas não necessariamente empolgante – especialmente quando ele invoca nostalgia. Tal constatação é totalmente subjetiva e vai de acordo com o critério (e o ouvido) de cada um achar que a remasterização soa melhor ou não; a intenção do post é apenas mostrar as diferenças no excelente trabalho feito por Taxman e sua equipe na versão para Android. Eu pelo menos gosto de ambas as versões e ainda não me decidi sobre qual é a melhor. Enquanto isso, vou alternando entre uma e outra para não cair no tédio.

Mas gostaria de saber a sua opinião: Qual você gostou mais? Comenta aí!

E claro, se quiser ouvir toda a trilha sonora do Sonic para Android, basta seguir a playlist abaixo no Youtube. De nada. A música da introdução e do menu foram compostas por Jaelyn Nisperios, originalmente para os menus da Sega Vintage Collection, série de relançamentos para a PSN e Xbox Live Arcade.

Ex-colaborador do Passagem Secreta.

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Categories: game music
  1. Felipe Silva
    1, agosto, 2013 em 08:40 | #1

    Parabéns pelo excelente post. A trilha sonora deste jogo é a minha favorita de toda série e é perceptível a diferença no audio das duas versões.

    A musica da Labirinth Zone que é a minha música favorita deste jogo e que mais escutei eu pude perceber tais melhorias no estéreo dela e alguns tons diferentes mas que deixa-a bem agradável para escutar.

    Sei que este jogo saiu inúmeras vezes no Xbox 360, inclusive tenho a versão do Mega que saiu no Sonic's Ultimate Genesis Collection, mas pagaria novamente para ter essa versão caso eles lançassem na Live.

  2. 1, agosto, 2013 em 09:47 | #2

    Thanks! Eu não expliquei bem no post pra não ficar gigante, mas a música está mais "estéreo" justamente porque o cara pegou os tons gerados pelo PSG do Master e redistribuiu entre os lados, no Mega esses sons ficavam todos no meio.

    E eu acho aquele Sonic´s Ultimate Genesis Collection uma coisa de ranger os dentes em relação à parte sonora. Aliás, se você vir um port assinado pela Backbone Entertainment, pode ter certeza que o som vem um pouco cagado em relação ao original. E pior que tinha gente que ainda elogiava… rs

    Mas eu espero isso mesmo, que não só lancem esse Sonic do Taxman na Live, PSN e Steam, como também ele faça o mesmo tratamento com o Sonic 2 e 3. Aguardemos…

  3. 1, agosto, 2013 em 13:33 | #3

    Ótimo post. Comprei o jogo para ter o privilégio de jogar com o Tails, e adorei o trabalho feito. O port é realmente divino, a começar pelo menu. Eu não havia reparado na diferença de áudio, achava apenas que era fiel a do Mega Drive. Comparando uma com a outra a diferença é bem nítida.

    • 1, agosto, 2013 em 19:38 | #4

      Fiquei de boca aberta quando vi a abertura e os menus pela primeira vez. Não é todo dia que a Sega (na verdade, o Taxman né) dá tanta atenção a um relançamento de um clássico. Fico no aguardo de que relancem essa versão nos consoles.

  4. 1, agosto, 2013 em 15:18 | #5

    Sensacional! Bem esclarecedor e didático. Por mais vezes que tenha ouvido a trilha, eu não ia reparar em todos esses detalhes como não tenho as músicas totalmente impressas na memória como você. Quando escutei pela primeira vez, só senti o "som mais estéreo", não essas minúcias na instrumentação.

    Uma dúvida: quem é o compositor do tema do menu? Tem bem cara de música desses jogos indie de hoje em dia…

  5. 1, agosto, 2013 em 19:34 | #6

    Pois é, até esqueci de falar. Quem faz o tema da intro e desse menu é aquela Jaelyn Nisperos, originalmente para aqueles jogos da Sega Vintage Collection.

  6. 1, agosto, 2013 em 20:58 | #7

    Cara que post maravilhoso! Comprei pro iPad essa versão e na empolgação de jogar esse port nem reparei na diferença entre a trilha sonora original e a do remake, mas percebi que houve mudanças gráficas, deixando mais suave alguns efeitos de fade, entre outros. Capricharam demais nesse jogo, e espero que lancem mais jogos assim! 🙂

  7. 1, agosto, 2013 em 21:23 | #9

    Excelente post. Não li tudo ainda, mas favoritei pra ler depois todo o artigo. Como adoro postagens que envolvem o assunto música, conferi todas as faixas. Minha opinião? Mega Drive é bem melhor, porque? Peso nos graves e um chimbal mais próximo do natural.

    O som da versão Android está mais limpo, porém isso acabou sendo uma desvantagem em relação a alguns instrumentos. O chimbal está horrível, e está parecendo mais um ruído eletrônico de choque elétrico do que um chimbal.

    No mais resumo, tudo numa questão de peso e dinâmica. A trilha do Android ficou muito enxuta e balanceada (seca), mas acaba levando vantagem na qualidade de percepção sonora, já a do Mega é mais abafada e puxa pra um lado de maior impacto em nuances mais graves, o que torna a música mais contagiante, Lerei tudo depois. Deu até vontade de jogar essa versão de Android pra conferir tudo mais de perto, talvez eu desenrole isso.

    • 1, agosto, 2013 em 21:32 | #10

      Valeu, cara. Belo comentário, bem aquilo que falei na conclusão do texto. Vou confessar agora que realmente o novo hihat não me agradou, achei até incômodo, mas relevei e continuei jogando e ouvindo mesmo assim. Mas, se preferisse entre os dois, ficaria com o gerado pelo PSG do Mega Drive mesmo.

  8. Eduardo Casola Filho
    1, agosto, 2013 em 21:49 | #11

    A comparação é perfeita. É nítida a diferença entre as músicas das duas versões. E realmente essa coisa do impacto faz a diferença. Mas isso não significa que a mudança tenha sido ruim. Muito pelo contrário.

    • 1, agosto, 2013 em 22:30 | #12

      Exatamente, aí vai de cada um. O bom mesmo é que, nesse caso, a remasterização não é necessariamente uma coisa ruim, apenas diferente. Existem vários filmes e jogos em que, quando restauram o áudio, fazem tantas mudanças que não somente desviam bastante do original, como também ficam muito ruins em relação a ser algo totalmente novo… Não é o caso aqui.

  9. 1, agosto, 2013 em 21:59 | #13

    Eu particularmente gostei bem da versão nova, apesar de próximas. Mas eu entendi (e percebi) tudo que você falou no texto, aliás muito bom 😀

    • 1, agosto, 2013 em 22:31 | #14

      Essa é a ideia… É complicado falar de coisa técnica sem deixar as pessoas boiando. Ainda bem que consegui evitar com que isso acontecesse no post 😛

  10. shaolinmaru
    2, agosto, 2013 em 11:11 | #15

    Muito legal a análise, as músicas remasterizadas de Green Hill e Scrap Brain são as que claramente nota-se a diferença para o original e a que mais perderam a "agressividade" que vc citou.

    Já as de Spring Yard e Star Light eu gostei da versão nova, pois como os temas originais tem um tom "suave" a remasterização, nesse caso, foi positiva.

  11. 2, agosto, 2013 em 20:14 | #16

    Poxa, bela constatação, viu. Realmente a trilha sonora do Sonic é bem eclética, então a preferência ou não pelas versões remasterizadas acaba variando de música pra música mesmo.

  12. Eric
    3, agosto, 2013 em 09:41 | #17

    Muito bom o post. Quando vi que havia essa versão do Sonic para o Android, logo imaginei que haveria uma remixagem e substituição dos samples originais por alguns de mais qualidade. Fico feliz que alguém fez uma matéria sobre isso, assim é possível perceber certas sutilezas da trilha sonora do game que passam despercebidas "à primeira jogada".

    • 3, agosto, 2013 em 16:50 | #18

      E geralmente essas mudanças sempre geram controvérsia. No caso do Sonic, isso não ocorre, o que faz o trabalho dos caras ainda mais gratificante.

  13. Ulisses Dactar
    3, agosto, 2013 em 19:03 | #19

    Gostei do som da versão pra Android.Fizeram um bom trabalho.

  14. 8, agosto, 2013 em 15:09 | #20

    Muito bom o post. Parabéns!!

  15. Disturbed
    26, agosto, 2013 em 12:34 | #21

    O post foi realmente muito bom, agora e mesmo necessario fazer tantas materias em sequência relacionadas a SEGA/Sonic/Mega ??? Serio, não e querendo ser chato (mais ja sendo) o site ja ta quase mudando de nome pra PASSAGEM SEGETA . 😀

    • 28, agosto, 2013 em 15:29 | #22

      Hahahah! Essa foi boa!

      Como o pessoal anda sem tempo (suponho, pelo menos é o meu caso) e o Rafael é o membro mais ativo daqui, seguista doente, então pode dar essa impressão devido à sequência de posts.

      Meus próximos posts serão sobre NES e PC, então está tranquilo (mentira, tem uma matéria sobre um clássico da Sega na fila).

      • Distrubed
        1, setembro, 2013 em 23:24 | #23

        ''Meus próximos posts serão sobre NES e PC, então está tranquilo''

        – Então blz, vo cobrar ein!! :p

        ''(mentira, tem uma matéria sobre um clássico da Sega na fila)''

        – EU SABIA!!!! kkkkkkkkkkkk

    • 1, setembro, 2013 em 19:20 | #24

      Você tá certo: eu já escrevi coisa demais sobre a Sega em detrimento de outras empresas no passado. Mas das 8 matérias na home, por exemplo, 5 não são sobre a Sega, e sim sobre outras coisas. Também não é para tanto :$

      • Disturbed
        1, setembro, 2013 em 23:34 | #25

        E amigo Rafael, e nessas horas que a ''fama'' pesa pro seu lado Hehehe.

        De qualquer forma no aguardo das proximas postagens, Vlw.B)

  16. 30, setembro, 2013 em 14:59 | #27

    Muito bom!

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